Nunca é simples acordar cedo para o trabalho, especialmente quando a cama parece nos acolher com um afeto que só ela consegue proporcionar. O despertador ecoa incessantemente, como um amigo sem juízo, teimando em quebrar o abraço do sono. Observo o relógio e constato que são 5h00 da madrugada. Ainda não vi a luz do dia, e o mundo ao meu redor está quieto, como se todos ainda estivessem mergulhados no mesmo sonho que eu.
Levanto-me de maneira automática, onde o corpo sabe o que deve ser feito, mas a mente ainda não se convenceu de que o dia realmente começou. Neste momento, o café parece ser o meu único companheiro leal, aguardando ansiosamente pela minha chegada. O cheiro do café quente, em brasa, funciona como um chamado para acordar para a realidade. Tomo um gole e percebo um impulso energético começando a surgir em mim, mesmo que seja uma energia discreta e reticente.
A janela ainda está sem luz, mas já se percebe movimentação no exterior. A cidade começa a despertar aos poucos, com a entrada dos primeiros veículos nas vias e acendendo as primeiras luzes. Contudo, a sensação de solidão no trajeto até o local de trabalho é enorme. Existem poucos que encaram a madrugada, e cada um parece estar imerso em seu próprio universo individual. O tráfego continua tranquilo e, por um instante, a cidade parece ser minha.
Ao chegar ao trabalho, tenho a impressão de que, mesmo exausta, existe algo de belo no silêncio das primeiras horas do dia. Quando iniciei minha jornada, o mundo ainda estava adormecido, e isso, por algum motivo, confere um significado especial às minhas primeiras ações do dia. Porém, rapidamente a rotina se estabelece, as horas passam e o sentimento de fadiga se mistura com a velocidade do trabalho. No final, o que permanece é a convicção de que, mesmo diante de todas as infelicidades, o amanhecer sempre traz consigo uma nova oportunidade. E, mesmo que a cama persista em chamar, seguimos adiante.
Meire Marion é professora de inglês, língua e literatura, escritora e poeta. É diretora da UBE, responsável pelo Prêmio Cláudio Willer de poesia. Têm sete livros para crianças publicados. É colunista da Revista Voo Livre de literatura. Também participa de diversas antologias com poemas e contos.
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