O canto da justiça

A justiça do Rio de Janeiro negou habeas corpus em processo movido por Fernanda Lima contra o cantor sertanejo Eduardo Costa.

Confesso que nunca havia ouvido falar no sujeito. Até por ter total desinteresse pelo universo musical que ele representa. Causa-me surpresa que essa “gente” encontre espaço, lugar de fala, seja conhecida e faça sucesso entre os jovens. O rapaz teria chamado Fernanda de “imbecil”, afirmado que o programa comandado por ela era “esquerdista” e “destinado a bandidos e maconheiros”, além de sugerir que Fernanda se utilizava de “mamata” na emissora. E completou: “Essa imbecil com esse discurso esquerdista! Ela pode ter certeza de uma coisa, a mamata vai acabar, a corda sempre arrebenta pro lado mais fraco e o lado mais fraco hoje é o que ela
está…”

Eu fico feliz quando tais manifestações são punidas pela lei. Vejo com certa alegria o desespero deles. São conservadores, defendem escolas sem partido, trazem invariavelmente discursos homofóbicos, racistas, misóginos (aliás, a misoginia é característica do gênero sertanejo), acabam sempre nos braços de um Deus estranho, comandado por pastores que se locupletam diariamente.

Tenho certeza de que se enganam. Podem comemorar e achar que ocuparão a Presidência da República em chapa com Ronaldo Caiado (nosso antigo inimigo) e o horrível Gusttavo Lima. Já repararam como essa turma vazia gosta de dobrar as consoantes em seus nomes? Podem considerar-se fortes. Mas são fracos, insossos, inodoros, porque não possuem lastro.

O Brasil já se apequenou uma vez. Não repetirá o engano!

 

 

Ricardo Ramos Filho é escritor, professor de Literatura e orientador literário. Graduado em Matemática pela PUC-SP e doutor em Letras pela USP, ministra cursos e oficinas. É presidente da União Brasileira de Escritores (UBE). Como sócio proprietário da Ricardo Filho Eventos Literários, atua como produtor cultural, tendo sido curador da FLIBI (Festival Literário de Birigui – 2022), do Prêmio São Paulo de Literatura (2023) e da FLIRP (Feira Literária de Ribeirão Pires -2024). Faz parte do Conselho Administrativo da SP Leituras, e do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta. Publicou cerca de trinta títulos infantis e juvenis, como Computador sentimental (1992), vencedor do Prêmio Adolfo Aizen, O livro dentro da concha (2011), selecionado para o catálogo FNLIJ para a Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha em 2012, Feiticeira (2014) e Maria vai com poucas (2018), além de livros adultos, como Conversa comigo (2019) e Cidade aberta, cidade fechada (2023), de crônicas. Lançará em 22 de março, na Patuscada, espaço da Editora Patuá, às 17 horas, seu primeiro romance: Toda poeira da calçada.

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