Tem mais não: o tempo acabou, já é então, vai restando algum verso a desoras. A crônica ruinosa dos dias é cada um por si, e Deus, se existir, que venha de armas engatilhadas.
Nem o formato interessa mais: a crônica está. Mensagem numa garrafa desinteressante, anticrônica afinal.
É que me pediram: fala do cotidiano, essas tuas angústias – mas nem em dividir eu acredito mais, derrelição, salve mulher dos cem cães, derrelição apenas.
Então as passagens: nem pessoas, nem máquinas: presenças. Estas páginas de caixa móbil, mil cores de reclame – e a chance.
Evitar oportunidade, sempre. Escolher a oficina irritada, que saiba ser, não ser. Passagens de crônica, dispositivos, tudo coloide: não tem mercado, ninguém quer comprar, e assim vamos vivendo.
Faz calor, mas a gente gosta mesmo assim. Outros ares impossíveis, coisa de drible e canção – e as mentiras, proteger o santo homem que veio nos salvar, executar os dissidentes: uma senhorinha enorme, de olhos grandes, látego nas mãos.
Crônica de invisíveis – massas de sombras odiosas deixam cheiro, fazem tropeçar. O ambiente encorpado da pólvora: combustão. Reter formas difíceis de faíscas.
Olhos fuliginosos já não podem divisar. Nunca houve festa. Eu caí nesse pantim.
Rogério Duarte é secretário-geral da UBE. Além de escritor, é editor, mediador de clubes de leitura e professor. Em 2024, publicou seu primeiro livro de poesia pela Editora Patuá, O Livro a Desoras.
Sensacional, como tudo o que escreves!!! Parabéns, Rogério.
Muito bom, Rogério. A mundo das crônicas é misterioso. Você desvenda muito bem.
Sensacional, professor! Parabéns e sucesso 👏👏
Muito obrigado, Karla!
Gostei muito, Rogerio, sua habilidade com o texto faz meus olhos sorrirem.
Parabéns, belo texto!
Que estilo! Ágil, sonoro, recorte do recorte. É para poucos, é para os grandes! Parabéns.
Obrigado, Milton!