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Homenagem a Ziraldo
Há algumas perdas que, mesmo previsíveis, nos abatem como se fosse a perda surpreendente de um familiar ou de um amor. Foi assim com Ziraldo – e para uma pequena multidão de pessoas que, não apenas o admiravam, mas que aprenderam com ele.
Sim, aprenderam: Ziraldo educava, com suas penas de nanquim, suas variedades de tintas e papéis, seu traço rigoroso e inconfundível.
Para muitas pessoas, Ziraldo tem como principal destaque de sua biografia a resistência ao regime militar. Não há dúvida de que ele foi grande — e corajoso — também nisso.
Mas ele foi muito mais. Sua presença nas artes gráficas, no jornalismo, nas artes plásticas, na literatura está marcada desde muito antes e até muito depois desse período trágico de nossa vida nacional, entre 1964 e 1985.
E isso inclui uma presença internacional. Se tivesse nascido em Manhattan ou San Francisco, em vez de na gloriosa Caratinga, Ziraldo teria a mesma dimensão internacional de um Saul Steinberg, um Milton Glaser ou um George Booth. Mas ele chegou bem perto. Teve seus desenhos publicados em alguns dos melhores veículos do planeta, dedicados a isso.
Ziraldo trazia, em seus desenhos, uma dificílima harmonia entre rigor e carinho, entre sofisticação e acesso. Desenhou muito além das figuras que conhecemos pela mídia (que delícia a Supermãe, Pererê, o Menino Maluquinho, Flicts, sem falar das charges e textos no Pasquim e no mais importante da imprensa brasileira), fez logotipos para marcas importantes nos anos 70, escreveu livros, cuidou com carinho da família, enfim: dá para dizer que Ziraldo Alves Pinto está entre as raras pessoas que passaram por este planeta, e que foram muitas em uma só.
Viva Ziraldo!
Jayme Serva
UBE – Diretor