CARTA AO PRÊMIO
MINUANO DE LITERATURA 2024
A Desconstrução
Temerária do Prêmio Minuano.
Sra Beatriz Araújo
secretária de cultura
do Rio Grande do Sul
Sr. Benhur Bortolotto
diretor do Instituto
Estadual do Livro – IEL
O que espera-se de um Prêmio Literário? Que ao longo dos
anos evolua, se repense, se aprimore, em diálogo permanente com a comunidade
cultural a que ele se destina. Isto vinha acontecendo até a descontinuação do
Prêmio Minuano, em 2023.
Ocorre que o novo desenho do Prêmio Minuano de Literatura
edição 2024, formulado pela nova direção do IEL – Instituto Estadual do Livro,
surpreende não pelo que apresenta de virtuoso, de inovador, mas pelo que contém
de descabido e equivocado.
A extinção injustificada de categorias tradicionais como
Crônica e Texto Dramático, e de categorias emergentes como Ilustração, História
em Quadrinhos e Tradução, revela a incompreensão da importância e do
significado de cada um destes gêneros literários.
A unificação das categorias Infantil e Juvenil é outro ponto
alto em termos de despropósito. Demonstra um desconhecimento imperdoável dos
fundamentos destes gêneros que, mesmo possuindo semelhanças, são entendidos
como gêneros distintos.
Extinção Categoria
Crônica
O que justifica a eliminação do gênero literário de Lima
Barreto, Nelson Rodrigues e Luiz Fernando Veríssimo? De nossas escritoras,
Cláudia Tajes, Cláudia Laitano e Martha Medeiros? De Carpinejar? Esse gênero
literário que nasce com o sentido do “chronos”, do tempo, do hoje, da
agoridade, e que reflete como poucos o momento presente, este que vivemos, no
que contém de risível ou trágico… o que justifica retirá-lo do Prêmio Minuano?
Extinção Categoria
Texto Dramático
O que justifica a eliminação do gênero que produziu textos
como “Antígona”, “Navalha na carne”, “Vestido de Noiva”… o gênero dos nossos
Carlos Carvalho, Ivo Bender e Vera Karam… de Qorpo-Santo?
Por que subtrair do Prêmio um gênero tão invisibilizado e
negligenciado pelo mercado editorial, e que apesar de tudo protagoniza uma
dramaturgia da maior potência no estado? E que reuniu no Manifesto pela volta
do Prêmio Ivo Bender mais de 300 Dramaturgos e Dramaturgas?
Extinção Categoria
Especial
A categoria Especial tradicionalmente abriga publicações que
por suas características não se enquadram nas demais. Seria o caso de abrir mão
do gênero Biografia ou de obras memorialistas? Por qual motivo desprezar
livros-reportagem, livros de viagem, projetos editoriais ousados que só a
categoria especial pode acolher? Por que apartar do Prêmio publicações que
conciliam técnicas diversas, desenho, fotografia, ilustração, com textos
historiográficos ou não, regra geral de forte conteúdo literário?
Em concebendo desta forma restritiva e excludente edições
comemorativas como tivemos nos 250 anos de Porto Alegre, e tantas outras que
eternizaram, Décio Freitas, Sandra
Pesavento e Sérgio Da Costa Franco, não teriam lugar.
Extinção Categoria
Tradução
A criação da categoria “tradução” foi uma decisão feliz
do Prêmio Minuano de Literatura. Reconhecer esta atividade literária tão cara a
todos nós escritores(as) e leitores(as), valorizar e distinguir a excelência
destes profissionais foi um acerto do Prêmio. Por que agora regredir e
desprestigiar esta atividade que nos coloca permanentemente em contato com
autores e obras de outros povos?
Extinção Categoria
História em Quadrinhos
Como entender esta arbitrária e descabida supressão da
categoria Quadrinhos do Prêmio Minuano em um estado que é celeiro de grandes
artistas das HQs tais como Santiago, Edgar Vasques, Fabiane Langona, Ana Luiza
Koehler, Ernani Cousandier, Rafael Corrêa e outros? Considerada a nona arte,
sua inclusão no Prêmio significou o reconhecimento de sua importância enquanto
linguagem artística e literária de grande potência na conquista especialmente
de jovens leitores. A exclusão desta categoria significa um retrocesso
inaceitável.
Extinção Categoria
Ilustração
Outro acerto do Prêmio foi a inclusão da Categoria
Ilustração. A narrativa visual na literatura para a infância e juventude exerce
um papel da maior importância. Ela concorre ao lado das narrativas textuais
para uma amplificação dos sentidos e das leituras possíveis. Neste quesito o
Prêmio Minuano se alinha aos prêmios mais importantes da cena Literária. O
Prêmio Cátedra Unesco de Leitura e o Prêmio da AEILIJ – Associação de
Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil, entendem o livro como
um objeto estético e, enquanto objeto estético, concebe a narrativa visual como
parte fundamental da narrativa de uma obra para a infância.
Portanto, o que fundamenta a exclusão desta categoria que
representou um avanço conceitual ao Prêmio Minuano? Um avanço que o colocou
entre os Prêmios mais respeitáveis do país.
Unificação Categoria
Infantil e Juvenil
Quando nos deparamos com a unificação das categorias
infantil e juvenil, nos perguntamos que dessaber orientou tal decisão. É tão
fora de propósito que somente uma pessoa completamente alheia à natureza destes
gêneros poderia cogitar tal fusão, quanto mais promovê-la.
Embora haja semelhanças, estes dois gêneros possuem
distinções e especificidades que fundamentam o entendimento de que devem ser
avaliados enquanto categorias distintas. Voltar atrás neste entendimento é
desprezar o entendimento da FNLIJ – Fundação Nacional do Livro Infantil e
Juvenil, da Cátedra Unesco de Leitura-PUC e da AEILIJ – Associação de
Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil.
Considerações Finais.
Se em sua nova formulação a valorização monetária do Prêmio
ganha relevo, e esta talvez seja a única notícia positiva em seu redesenho, o
que ela nos lega em despropósito é infinitamente mais impactante. O que se
ganha com as premiações não se compara ao que se perde com as exclusões.
Por fim, a parceria com o Instituto de Letras da UFRGS foi
descartada sem qualquer justificativa plausível. O que pode sustentar tal
decisão? O Instituto de Letras da UFRGS é uma instituição da mais alta
respeitabilidade, e que afiançava ao Prêmio excelência e confiabilidade ao
corpo de jurados.
Por estas razões, colocando-se em oposição à reconfiguração
temerária do Prêmio Minuano de Literatura 2024, as entidades que subscrevem
esta Carta pedem a imediata suspensão do Edital em curso, com o objetivo de
rever os equívocos perpetrados e retroagir ao seu formato original.
Um Prêmio consolidado, consagrado nacionalmente e benquisto
pela comunidade das letras, dos ilustradores e grafistas do RS, não pode ser
apequenado.
Subscrevem este documento:
UBE – União Brasileira de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilustradores de
Literatura Infantil e Juvenil
AGES- Associação Gaúcha de Escritores
ARL – Academia Rio-Grandense de Letras
AQUARIOS – Associação de Quadrinistas do Rio Grande do Sul
CSLLLB – Colegiado Setorial do Livro, Leitura, Literatura e
Bibliotecas
DAD – Departamento de Artes Dramáticas da UFRGS
GRAFAR – Grafistas Associados do Rio Grande do Sul
IL – Instituto de Letras da UFRGS
SATED – Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de
Diversões do RS
Coletivo seus+um
Mulherio das Letras RS
FPLL – Frente Parlamentar do Livro e Leitura de Porto Alegre
FPLL-RS – Frente Parlamentar do Livro e Leitura do RS
FPLLE – Frente Parlamentar do Livro Leitura e Escrita